Nada de Novo no Front - Erich Maria Remarque

03/01/2014 18:17
Por Lucas Ildefonso
 

Ambientado no apavorante cenário da Primeira Guerra Mundial ou Grande Guerra como também ficou conhecida, o livro vai além da promessa dita por muitos de ser um escrito pacifista. Nada de Novo no Front é um texto autobiográfico do período em que o autor, Erich Maria Remarque, esteve na Guerra, visto que é resultado das lembranças traumáticas que o atormentavam no período pós-guerra

A história nos é contatada por um soldado do exército alemão que sem enrolações vai direto ao ponto ao narrar os horrores da guerra, em todos os seus aspectos possíveis. Para tanto, Remarque, veterano da  guerra, utiliza-se de um personagem fictício, Paul Balmer, para nos mostrar o que foi uma das mais temíveis guerras da humanidade. Pode-se dizer que sua estrutura lembra um diário em que cada capítulo é uma descrição dos aspectos que envolveram a guerra, exposta de maneira livre. Desde inicio o leitor é tragado para dentro do enredo, e a franqueza do autor, narrador-personagem, chega a parecer sem sentido.

O título torna-se claro à medida que o livro se encaminha. Há uma indiferença do personagem principal aos horrores que conta, posto que para ele é algo do seu cotidiano. Os soldados se acostumam com a morte de um modo que assusta a quem lê e dá ao livro uma característica especial, gerando o seu titulo, Nada de Novo no Front.

Tudo é mostrado sem um tratamento prévio, sendo dado um retrato tão fiel quanto poderia ser desenhado num livro. Sem demonstrar muito acanhamento é delineado os acontecimentos: como os soldados morriam aos poucos nos postos avançados ou nas trincheiras, as experiências do narrador sempre impelido entre a vida e a morte, os momentos em que teve de matar, o camaradismo que aos poucos era substituído por uma forte desesperança e a raiva por aqueles que incentivaram a guerra. E neste aspecto, como conclui Paul, seus companheiros  de batalha e ele  lutavam por pessoas que não conheciam, já que não havia o interesse direto do povo, destarte a propaganda realizada. A sociedade alemã da época encontrava-se sem saber o que de fato acontecia nos fronts de batalha, tendo apenas em mãos, noticias fantasiosas sobre o exito alemão nos combates.

O narrador-personagem não se satisfaz em apenas narrar casos, em alguns pontos do livro também se preocupa em se indagar e refletir sobre os pontos que conta, nada de maneira muito filosófica, mas de uma forma que estimula a reflexão do que se expõe. O livro é recheado pelas nuances da guerra, e quem ler tem a sensação vívida de fazer parte dela. Quem se interessa por histórias de guerra, encontrará no livro o que deseja, também verá uma análise pungente do que representou a guerra para quem de fato a enfrentou, os soldados, e como nos é advertido numa espécie de epigrafe antes do inicio:

“Este livro não pretende ser um libelo nem uma confissão, e menos ainda uma aventura, pois a morte não é uma aventura para aqueles que se deram face a face com ela. Apenas procura mostrar o que foi uma geração de homens que, mesmo tendo escapado às granadas, foram destruídos pela guerra.”

O livro foi um sucesso mundial e o autor teve de sair da Alemanha, em tempos nazistas, acusado de estar contando mentiras e viu sua obra ser proibida no país, emigrando para os EUA. Pouco tempo após ser lançado e do sucesso imediato, foi realizado um filme em terras hollywoodianasque recebeu o Oscar em 1930 e vale a pena conferir após a leitura do livro. A obra é considerada uma referência no quesito de escrita pacifista. Mas também se pode enquadrá-la  como uma fonte de conhecimentos sobre a Primeira Guerra Mundial. Devo dizer que o livro é mais do que recomendado, tanto diante de sua importância (Fins pacifistas), quanto pelo seu próprio conteúdo e as possíveis reações que podem vir de sua leitura. 

            Por ser um livro autobiográfico, vale muito a pena pesquisar pela biografia de Erich Maria Remarque um pouco mais completa do que a comumente fornecida no inicio do livro, que acreditem é muito interessante. Para os que gostam de colecionar frases, citações, pensamentos e trechos muito bem escritos, o livro está rcheio deles, tanto o que o autor desta critica ao lê-lo, acabou desistindo de selecioná-las, toda a obra está repleta, para dar uma noção abaixo há alguns trechos.

É pesaroso imaginar que muito poderia ter sido feito se livros como esses fossem mais lidos. A face real ou uma representação dela é encontrada aqui. Se o mundo realmente conhecesse a guerra da maneira que nesse livro é relatada, talvez, a paz estivesse mais próxima e as batalhas fizessem parte do último recurso para resolver impasses simples e que mesmo assim, foram acertados com o sangue de soldados para sempre desconhecidos.

“Naquela época, até nossos pais usavam facilmente a palavra ‘covarde’. As pessoas não tinham nenhuma ideia do que estava por vir. Os mais sensatos eram realmente os pobres, os simples: viram logo que a guerra era uma desgraça, enquanto as classes mais altas não se continham de alegria..."

"Sob a pele, a vida não palpita mais, foi sendo expulsa do corpo; a morte avança de dentro para fora e já domina os olhos. Lá está nosso companheiro Kemmerich, que até há pouco ainda assava carne de cavalo e se agachava junto conosco nos buracos abertos pelas granadas; ainda é ele, porém já não é mais ele; suas feições ficaram imprecisas, indistintas, como duas fotografias sobrepostas na mesma chapa. Até sua voz soa como se viesse do túmulo."

A imagem abaixo foi retirada do filme Homônimo de 1930, dirigido por Lewis Milestone

Ótima Leitura!

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